A entrevista de Rui Rio à RTP informação foi tão eficaz que obrigou os adversários da sua área política a reagir. Se a crítica de Santana Lopes, que é também dirigida a Marcelo Rebelo de Sousa, se percebe, porque Santana tem razão sobre as virtudes de uma disputa saudável com várias candidaturas de centro-direita, a reacção de Marcelo é um verdadeiro "mimo". O comentador já tinha transformado sondagens em primárias ao aconselhar que quem está atrás dele desista, mas embalado pela definição dada por Rio sobre o papel do próximo presidente da República, Marcelo atira muito mais longe. Para o professor, a função é para ser "vivida com alegria", porque "se for vivida com cara de cemitério é menos bom". Porque "as pessoas fizeram um esforço pelo país, [...] temos de lhes dar mimos, temos de lhes dar carinho". Marcelo sabe do que fala, porque é o rei dos afectos e parece estar a propor-se para, a partir de Belém, ser o entertainer itinerante da nação. O comentador não esquece que está reservado ao Presidente da República um papel importante no jogo político, mas prefere reduzi-lo "à missão da gestão da situação de governabilidade e estabilidade". Depois, é assumir o papel de "fomentador da esperança dos cidadãos", "um portador de afectos".
Written by Paulo Baldaia 26 Jul, 2015Fizemos um longo percurso para nos tornarmos mais europeus e acabamos a viver mais divididos e com nacionalismos perigosos. E para que um dia nos possamos ver livres deles outra vez, convém que não comecemos a fazer distinções entre nacionalistas. É preciso repetir à exaustão que se o Syriza representa a vontade do povo grego, também os Verdadeiros Finlandeses, o partido xenófobo na Dinamarca ou a Frente Nacional em França só existem com o voto livre dos seus povos. Ninguém se pode convencer de que os de esquerda são bons e os de direita são maus, porque eles conduzem-nos todos para o mesmo sítio, para um acantonamento que nos afasta dos outros e os outros de nós.
Written by Paulo Baldaia 19 Jul, 2015Em defesa da soberania dos restantes países da zona euro e em coerência com a defesa que fiz do referendo na Grécia, embora não tenha concordado com o tempo escolhido e com a pergunta opaca, parece-me inevitável que os restantes europeus também se pronunciem sobre as condições em que será feito um novo empréstimo a Atenas. Mais ainda se houver um perdão de parte da dívida. Não é possível não admirar a coragem dos gregos que recusaram o apoio nas condições em que lhes foi oferecido, correndo o risco de ficar em situação bastante mais difícil mas mantendo a dignidade de serem eles a escolher o caminho que querem percorrer. Reclamam a nossa solidariedade, mas não podem impô-la. O risco do referendo grego reside precisamente aqui, a solidariedade da União Europeia, princípio basilar da sua existência, passou a ser uma escolha de cada um dos eleitorados. Se Tsipras entrou neste jogo político, tem de aceitar que outros líderes o queiram fazer nos seus países.
Written by Paulo Baldaia 12 Jul, 2015Se tivesse de explicar, a um extraterrestre acabado de chegar à Terra, o que se está a passar, diria que toda a gente quer a Grécia fora do euro, mas ninguém assume a verdade. Se não é isto, é isto que parece porque ninguém estava preparado para uma guerra de mangas de alpaca contra revolucionários, em que uns julgam que o euro ficaria mais forte sem a debilidade grega e outros que os gregos ficariam mais independentes para terem a política que o Syriza prometeu.
Written by Paulo Baldaia 05 Jul, 2015Por cá, a classe política seria mais apreciada e a abstenção seria menor, se houvesse um referendo ou eleições antecipadas cada vez que um governo tem de fazer o contrário do que prometeu em campanha, em matérias cruciais para a vida das pessoas. Tsipras faz bem em devolver a palavra ao povo grego e esta consulta popular, ao contrário do que ontem se fazia correr, não é uma verdadeira surpresa. A possibilidade de um referendo há muito que estava anunciada. Dito isto, há que estranhar o timing do anúncio e a pressa com que tem de ser feito, o que vai impedir a existência de um verdadeiro debate. Sem a ajuda da troika, a corrida aos multibancos deste fim-de-semana e aos bancos durante a semana dará um cheirinho do que pode ser a desgraça grega e isso até pode vir a funcionar contra o governo e a favor de um sim no referendo.
Written by Paulo Baldaia 28 Jun, 2015A democracia não é um privilégio nem um exclusivo da Grécia. A crise grega e a falta de entendimento entre os parceiros do Eurogrupo também não é da exclusiva responsabilidade dos gregos nem afectará apenas a eles. Podem, o primeiro-ministro e o Presidente da República, tentar sossegar-nos com o facto de estarmos preparados para aguentar uma nova crise do euro, mas é fatal como o destino que vá tudo de arrasto. A Europa não cresce, antes de mais, porque está toda sobre-endividada. É até muito provável que a dívida oculta (não propositadamente escondida, mas fora dos holofotes mediáticos) seja muito superior à dívida noticiada. Se os gregos entrarem em default toda a zona euro será vista pelos mercados mundiais como estando a falhar pagamentos devidos, e aí será novamente o "salve-se quem puder". Gostam de proclamar a democracia que elegeu o Syriza na Grécia, preparem-se porque os governos da Europa vão agir em defesa de quem os elegeu, os cidadãos dos seus países.
Written by Paulo Baldaia 21 Jun, 2015Cavaco Silva quer-nos a todos embarcados no futuro para que ele chegue rápido. Está convencido de que o optimismo tem vento suficiente para ajudar nesse caminho e diz o que um pai diz a um filho, partindo da posição confortável de se poder desresponsabilizar se não for seguida a cartilha. Como pai, Cavaco nunca aceitaria a posição que assume como Chefe do Estado. Ele sabe que quando um filho falha, falhou o pai. A verdade é que também se pode dizer a um filho, citando Miguel Torga, o que Cavaco podia ter dito a um país inteiro: "Recomeça.../Se puderes,/Sem angústia e sem pressa./ E os passos que deres,/Nesse caminho duro/ Do futuro,/ Dá-os em liberdade./Enquanto não alcances/Não descanses./De nenhum fruto queiras só metade."
Written by Paulo Baldaia 14 Jun, 2015Se as eleições forem, como se imagina, a 6 de Outubro, já só temos 122 dias para reuniões, convenções, comícios, arruadas e tudo o mais que se possa imaginar. Todo este tempo, mais todo o tempo que já foi gasto, não terá a utilidade que se imaginou. O grande escrutínio que estava prometido perdeu-se nas propostas dos grandes partidos, que já andaram para trás e para a frente e que fizeram que muitos portugueses não façam a mínima ideia onde é que está cada um. Afinal quem corta o quê? Nas pensões, na TSU, na confiança, na segurança...
Written by Paulo Baldaia 07 Jun, 2015Não sei se o PSD e o CDS ganham eleitoralmente ao não apresentarem soluções para a sustentabilidade da Segurança Social, nem se o PS ganhará alguma coisa ao afirmar que tudo se resolverá com o milagre das rosas e a multiplicação dos postos de trabalho, mas sei que se ganharem nas urnas com estas estratégias, isso significa que o eleitorado português é muito pouco exigente. O problema é grave, persiste há muitos anos e terá de ser resolvido. Pode esconder-se a verdade numa campanha eleitoral, mas tem de se lidar com ela na governação. É claro que, para um problema desta magnitude, não há apenas uma boa solução mas o que todos sabem, incluindo PSD, CDS e PS, é que as contas não batem certo e que para aí chegar é preciso que aconteça uma de duas coisas: ou sobem a receita ou descem a despesa. E o mais certo é que seja preciso fazer as duas coisas.
Written by Paulo Baldaia 31 May, 2015O PS continua favorito para vencer as eleições e até podia perdê-las com a honra de assumir as grandes causas que transportam as diferentes ideologias, mas prefere arriscar a ganhá-las sem ideia nenhuma que fique para o futuro. Pode parecer que faz todo o sentido aparentar ter soluções para tudo, mas os portugueses desconfiam de tanta bonança e sabem que é preciso definir prioridades, hierarquizando os problemas e assumindo opções. A prioridade atribuída pelo PS à classe média é errada porque nem reflecte a necessidade de resolver as desigualdades sociais, nem estabelece nenhuma diferença em relação à prioridade do centro-direita.
Written by Paulo Baldaia 24 May, 2015